IN MEMORIAM
Faleceu em Belo Horizonte no dia 15 de dezembro de 1943 no hospital S. Lucas o nosso Caro confrade frei Luiz Geldens. Em junho p.p. transferido para Araçuaí, chegaram depois de uns meses, notícias sobre o estado de sua saúde, ora melhores; ora peores. Sentia-se Frei Luiz muito cansado e exhausto, andava esquecido demais não se lembrando se já tinha almoçado ou não. Muitos médicos examinaram o doente, mas não conseguiram dar uma diagnose certa. Assim foi em Araçuaí e em Teófilo Otoni. Em Belo Horizonte um especialista constatou que a causa de sua franqueza total foi um, tumor cerebral e o aconselhou submeter-se a uma operação no Rio.
Foi triste ver acamado este homem grande e robusto num estado de exinanição e prostração total. Não tinha mais idéia exata de dimensões e distâncias. Sempre com dor de cabeça muito forte, custou-lhe encontrar palavras, conversando com dificuldade muito devagar e baixo.
Morreu frei Luiz com 58 anos de idade e 31 de sacerdote. Nascido na Holanda (9 de out. de 1885) entrou no convento em 1905 e chegou no Brasil no dia 30 de out. de 1913. Os lugares onde ele trabalhou são: Ouro Preto, Teófilo 0toni, Joaima, Vigia, Jequitinhonha, Divinópolis, (Vigário substituto) Lufa, Teófilo Otoni, Corinto, Pirapora, Corinto e Araçuaí.
No Norte de Minas em Corinto frei Luiz desenvolveu sua maior atividade.
O que frei Helano escreveu em S. Cruz sobre a vida do pranteado confrade como vigário de Corinto, pode-se escrever também de frei Luiz quando estava na cura das almas no Norte de Minas.
Frei Luiz (as linhas que seguem são dum confrade que tem, trabalhado muito com ele) foi sempre e em toda a parte um religioso observante, uma alma piedosa, sacerdote zeloso. Foi fiel às suas obrigações até às mínimas, também nos tempos e lugares, onde morava sozinho.
Na presença dos leigos parecia às vezes reservado e um pouco retraído; seja sempre bondoso e amável; na convivência, porém com os confrades mostrava sempre um gênio alegre, ria-se, brincava e sabia fazer da hora do recreio um verdadeiro divertimento.
Nunca e em parte alguma procurava entremeter-se. Satisfeito com tudo, com facilidade cedia à opinião alheia, nem sempre opinião melhor; sempre pronto para ajudar os outros e para executar as incumbências recebidas. Queixar-se de alguma coisa ou pessoa, falar da vida alheia não fazia parte do seu programa.
Em tudo era frei Luiz muito simples, nos livros, na roupa, na mobília, nas coisas que levava nas suas viagens, em tudo. Lembro-me que da cúria episcopal tinha vindo a ordem de arranjar confessionários para todas as capelas e - se possível - para as fazendas, onde, os padres costumavam celebrar a S. Missa e administrar os SS. Sacramentos. O nosso confrade obediente e singelo não podendo logo cumprir esta ordem, inventou o seguinte confessionário para as viagens: sentava-se numa cadeira com as costas desta virada para o penitente, segurando na mão à altura da cabeça do penitente uma peneira e assim ouvia confissões horas em seguida.
Nas suas viagens tomava informações por toda a parte para saber se havia doentes, e neste caso não fazia questão de dar voltas de 3 ou 4 léguas para visitá-los e administrar-lhes os SS. Sacramentos.
Não é de admirar, se, nestas viagens compridas e pesadas, no Norte de Minas, nessas viagens cheias de dificuldades, onde não raras vezes se encontra má vontade e mesmo oposição, não admira se o Padre perde de vez em quando a paciência e emprega palavras à altura das circunstâncias! Por isso é um caso raro se o povo de vez em quando não acha que o padre está "meio ou muito brabo Ora, durante os muitos anos que passei em Pará de Minas, nunca ouvi tal crítica a respeito de frei Luiz.
O servo fiel foi chamado para transferir a sua residência para regiões mais felizes. Ninguém duvida que ele estava bem preparado para esta última viagem. Que ele não tinha medo da morte, prova-o a resposta bem franciscana que deu ao Superior e aos médicos que lhe perguntaram se consentia em uma operação grave e perigosa, com pouca probabilidade de bom resultado: "Morrer sem operação é mais barato!"
Caro frei Luiz, combateste varonilmente o bom combate, recebeste o prêmio. Descansa em paz, pia alma!
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1944, p. 15-16.